segunda-feira, 21 de julho de 2008

Artistas de todo o mundo, uni-vos!

Há muitos bons artistas em Portugal. Alguns cultivam a arte de saber escolher com quem dormir, outros educam-se e aprendem a ser auto-didactas, outros formam-se em escolas que na maior parte das vezes pouco mais têm para lhes oferecer que um diploma. Focar-me-ei neste terceiro grupo.
Ser artista num país que subestima a cultura de forma grosseira é obra, sobretudo, se tivermos em conta que os artistas tendem a ser mais facilmente reconhecidos não pela sua obra propriamente dita mas pelo sobrenome com o qual assinam os recibos verdes (pessoal do FERVE - Fartos d'Estes Recibos Verdes e outros movimentos de denúncia e acção como os Precários Inflexíveís têm chamado a atenção para isto), pelo corpo que ostentam ou pelos contactos que têm no pequeno mundinho das artes. É assim em todos os "submundos" da sociedade portuguesa, um pouco por todas as classes profissionais, a começar pelo "submundo escolar e académico".
A escola formata porque a sua função primeira é educar para a obediência, a subserviência, o não questionamento das normas ou hierarquias existentes (a parvoice das praxes é o exemplo mais flagrante, com a agravante de ser praticada entre pares - o M.A.T.A - Movimento Anti-Tradição Académica tem questionado isto de forma implacável). O processo de Bolonha não veio contribuir em nada para colmatar falhas deste âmbito, o individuo que se queira integrar deve acarretar as normas se quiser ser bem sucedido no sistema.
Os artistas são aqueles que têm voz e matéria para colocar (ainda que subtilmente) a arte ao serviço de causas. Mas os artistas, que grosso modo não podem trabalhar por carolice, precisam de financiamento. E como obtê-lo quando aquilo que a obra revela questiona de forma incomodativa os que atribuem subsídios e apoios? O que se entende por censura e de que formas subtís ela se manifesta?

Nosotros - na Cinemateca, dia 23, às 21:30 (conservem o bilhete porque depois do filme há festa no Cabaret Maxime, com música a cargo de Mister Lizard e DJ Nuno Lopes, também actor).

Nosotros é o título do mais recente filme produzido por alunos finalistas da Escola Superior de Teatro e Cinema e assinado pelo professor Luís Fonseca. É um melodrama multiplot em que três histórias nucleares se cruzam, fazendo jus ao tema "encontros/desencontros". Não se tratando de um filme LGBT, despertou-me particular atenção o facto de abordar o tema da bissexualidade. Formam o triângulo: uma rapariga, o namorado dela e um rapaz espanhol a quem ela aluga um quarto de sua casa. O espanhol e o namorado acabarão por se envolver sentimentalmente e isso virá a encerrar um ciclo na vida de todos eles.

A Dama, O Leão e o Unicórnio

A partir de "colagens" de textos de Jean Genet, Rui Neto aventurou-se num solo (o tema da solidão é o compasso) a que chamou de "esboço". Diria mais que um esboço, um delicioso delírio. Incorporando as várias personagens que o habitam, Rui Neto explora o queer e fá-lo de forma genial, perturbante e até incómoda. O público é constantemente provocado, sente nojo, sente pena, sente. A parte visível do trabalho, a realização plástica, a cargo de Sofia Ferreira é também de uma genialidade impressionante. A quem é que lembra um manto multi-usos ou um chapéu daqueles?
Esta imagem foi surripiada daqui.


Mais dinheiro houvesse e mais genialidade surgiria, mais cultura existisse e melhor reconhecidos seriam os seus agentes.
A reflexão é amiga da revolução. É por isso que a reflexão é silenciada e a revolução não será televisionada.

Não há revolução sem que haja uma revolução sexual. - relembra Gudrun em Raspberry Reich.
A propósito deixo aqui dois presentinhos:






x-pressiongirl

P.S. - Especial agradecimento a João Pinto, um dos responsáveis pelo guarda-roupa, por me ter concedido uma mini-entrevista e pela forma cortês como respondeu às minhas insistentes perguntas sobre o filme Nosotros.

4 comentários:

Duca disse...

x-presiongirl

Gosto deste blog pela irreverência, por isso o visito com frequência. Só que a minha falta de disponibilidade actual não me permite comentar-lhe as postagens. No entanto, como gosto do que vou lendo por aqui, independentemente de concordar ou não, dei-lhe um prémio. Ora, vá lá ao Tempus Blogandi e veja qual!

x-pressiongirl disse...

Ai duquinha, lá estou eu numa "saia justa"... sempre disse que nunca iria entrar em cadeias de selinhos para evitar a poluição visual nos blogues.
Agradeço imenso o selo de qualidade atribuído aqui ao pequeno sembikini. Mas digo, com franqueza, que já me atribuíu um selo de qualidade há muito tempo, desde que adicionou o sembikini à sua pink list e é uma honra figurar lá.
Não consigo nomear 9 blogues da minha preferência porque leio blogs muito diferentes e gosto de todos eles por motivos, também, diferentes. Seria, portanto, injusto comparar blogues incomparáveis. A melhor homenagem que lhes posso prestar está ali na lista de praias. O tempus blogandi já está na nossa praia praticamente desde o início, porque é um blog ao qual reconheço méritos, ainda que discordemos em algumas coisas (a discussão tem sido sempre salutar). Todos os blogs que estão nesta pink list (e mais alguns que ainda não descobri) são recomendáveis e se estão na pink list é porque são bons, que aqui não se adiciona nada por caridade: "AH, x-pression, veja lá aqui o meu blog e ponha-o na pink list do bikini".
Não! Primeiro têm de dormir comigo ou então fazer um depósito generoso na minha conta (recentemente também comecei a aceitar jóias). Mas os bons blogs não precisam disto para virem cá parar, são bons e isso basta-lhes. É o caso do Blogandi. ;-)
Um abraço,

x-pressiongirl ;-)

so fia disse...

olá dama!
só para dizer que a ideia do casaco gigante é uma partilha com o rui também. :)

ah! e fiz finalmente um blog!
http://autosofiaciente.blogspot.com/

x-pressiongirl disse...

Foi uma boa ideia. Aliás houve muito boas ideias. Parabéns, gostámos muito do vosso trabalho! ;-)
Ah, e benvinda à nossa pink list!