segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Quando o passado aparece ao teu lado

 Já se perguntaram sobre o que foi feito daquela pessoa com quem privavam e depois perderam o contacto? Quem viveu na era pré-facebook, pré-telemóveis ou quem tem amigos que não usam redes sociais possivelmente sabe do que falo.

Há duas formas de aparecer essa pessoa do passado: de forma breve ou de forma mais permanente. 

Geralmente é uma alegria reencontrar alguém do passado, mas pode não ser se alguma coisa ficou mal resolvida. O lugar do passado é no passado mas por vezes ele se mistura com o presente e isso não tem de ser mau.



Agora o que acontece se tens um encontro imediato de 1º grau com alguém com quem já tiveste um encontro imediato de 3º grau? Cumprimentas ou ignoras? Estava do outro lado da rua e não quiseste gritar? Estava acompanhada e não te pareceu apropriado interromper? Ou simplesmente finges que não vês porque não queres dizer olá a alguém do passado? 

Numa altura em que as aplicações de encontros seguem somando perfis quão descartáveis nos tornámos? 

É em alturas de eventos gays como o festival de cinema ou o arraial pride que mais me vêm falar desses encontros imediatos de 1º grau. 

- Está ali o Mister X com quem andei a curtir em 2008.

- Cumprimentaste-o?

- Não, ele também não me falou.

E ficam ali os dois como se não soubessem o nome um do outro, ambos à espera que o outro tome a iniciativa de cumprimentar e ninguém toma. 

É triste não conseguirmos cumprimentar com alegria alguém que nos fez sentir tão bem em determinado momento, sobretudo se as coisas não acabaram de forma ruim. 


Condessa X


quinta-feira, 20 de maio de 2021

Desaparecimento da rede Leswork deixa vácuo na cena lésbica em Portugal

Há vários vácuos na cena lésbica portuguesa que podemos mencionar apesar de gostarmos ou não: o desaparecimento do Memorial (bar lésbico que funcionou durante pelo menos duas décadas), as festas da Lesboa, que tinham como enfoque o público lésbico mas recebiam bem toda a gente e que duraram uns 8 anos senão mais, o Lesboat (festa da Lesboa num barco que navegava o Tejo), o desaparecimento de bares e discoteas como o Salto Alto, Maria Lisboa ou Ponto G. Há ainda a mencionar o apagamento de espaços outrora tidos como lésbicos como o Primas ou o Purex, que entretanto estão meio descaracterizados com tanto turista e hoje se apresentam apenas como friendly nos guias gays

É neste vácuo de espaços físicos que se encontra a rede Leswork que, sendo uma rede social na internet dinamizou e ocupou espaços nunca dantes reivindicados, como a pequena vila de Góis, palco dos seus acampamentos. 



O enfoque da rede Leswork era ser uma rede social fora da rede e fora da caixa, por isso os eventos diversificados e pioneiros em várias zonas do país. O primeiro speed dating lésbico ocorreu pelas mãos do Leswork no Algarve, em Lagoa durante o Allove Festival (festival que ocorreu apenas uma vez) que foi o tubo de ensaio para os replicados speed datings do Leswork no Arraial Pride de Lisboa.


Passaram-se 11 anos desde a criação da rede e uns 6 ou 7 desde o desaparecimento da rede que tantas amizades ajudou a criar e tantos casais fez e desfez. A rede funcionava por carolice e à data do seu desaparecimento eram mais de 1000 membros inscritas. Havia um controle rígido nas entradas para nos assegurarmos de estarmos apenas entre raparigas e hoje esse controle seria absolutamente impossível de ser feito porque hoje somos acusadas de sermos TERF (procurem o significado como eu fiz) se insistirmos na ideia de não deixar entrar todas, todos e todxs numa rede que era feita com a nossa carolice e com o meu tempo e dinheiro inicialmente. Era um clube de amigas que nos sairia muito caro hoje se o quiséssemos manter nos moldes em que funcionava. E isso é pena porque o Leswork era muito mais do que uma rede de engate, era uma rede que acolhia muitas raparigas que hoje estão orfãs de eventos exclusivos para elas, lésbicas, e somente a elas direccionados. 


É em resposta a essas órfãs de Leswork e de outros espaços físicos e virtuais (e não, associações LGBT+ não são a mesma coisa de todo) que vai haver um Leswork Revival. Surgiu da combinação de palavras LESbian netWORK e foi a primeira rede social portuguesa exclusivamente dedicada ao público lésbico.
Vai haver um Leswork Revival este sábado dia 22 às 15h00 no zoom, vamos mostrar o que foi a rede e a importância que ela teve para a comunidade lésbica e fazer um jogo tipo "quem quer ser milionária" no final. Estão todas convidadas.


Tópico: Leswork Revival I
Hora: 22 mai. 2021 às 15h00
Entrar na reunião Zoom
https://us02web.zoom.us/j/81004666538...
ID da reunião: 810 0466 6538
Senha de acesso: 820573
Deixo de presente o vídeo da nossa primeira festa aberta à participação de todos e uma breve explicação do que era a rede https://www.youtube.com/watch?v=DFvJU1Bnkpo


sexta-feira, 2 de abril de 2021

Festa da Mulher Aranha


Não, lamentavelmente o Cromossoma XX (soma de X-pressiongirl + Condessa X) não está a organizar nenhuma festa.
Estou apenas a querer falar de uma festa numa altura em que não havia (como agora também não há, mas por razões diferentes) festas centradas no "difícil" público-alvo detentor destes cromossomas. Eu acho que não é o público que é difícil, é a vida que lhes é dificultada, basta dar um passeio pelas apps que sobraram depois de festas como Lesboa, Lesboat, Leswork e a festa da Mulher Aranha, organizada pela UMAR e não por um visível colectivo lésbico com ou sem finaliddades comerciais. Alguém se lembra em que ano foi esta festa?

Saudações aracnídeas, 

Condessa X


sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Da Usurpação



Da usurpação

1. Assinaturas

Temos sentado no nosso parlamento um "partido" que começa a saga de usurpações pela usurpação de assinaturas na hora de se constituir formalmente.
Mas não foram só as assinaturas que ele usurpou.

2. Palavras

Foi, também, a palavra "Chega" que foi alvo de sequestro. Um partido que esconde numa palavra de uso corrente qualquer referência àquilo que esperamos saber de um partido político. Não que os partidos façam jus às palavras que chamaram para si, como: socialismo, democrata, popular, social-democracia. Mas era suposto elas serem uma referência.
Desta forma, de cada vez que usamos a palavra "chega" ou "basta" corremos o risco de ser conotados como apoiantes.

3. O Hino Nacional

O Chega (antes usurpador da palavra Basta, que deu nome à coligação de direita da qual fizeram parte PPM, PPV/CDC, movimento democracia 21 e o rascunho do que hoje conhecemos como Chega) usurpou também (sobretudo dos nossos relvados) o Hino Nacional (não cantado, mas grunhido da forma mais boçal e muitas vezes acompanhado de um gesto associado ao fascismo).
No último 25 de Abril ouviu-se e cantou-se, de forma alternada em toda a minha rua o Hino Nacional e Grândola Vila Morena. Na minha janela a bandeira nacional ao lado do cravo.

4. A nossa bandeira
Partido algum deveria poder usar a bandeira nacional durante as suas campanhas. Para isso existem as bandeiras dos partidos. A bandeira nacional é um objecto que deve ser usado como elemento gregário e não segregador.
Alguns amigos brasileiros têm medo de ser confundidos com bolsominions (a versão brasileira da saloiada chegana), por isso deixaram de usar camisolas com as cores da bandeira e isso é um grande erro.
Há uma imensidão de bolsonaristas a viver em Portugal (lembrem-se que 56% dos brasileiros que vieram para cá usufruir do nosso socialismo, segurança e tolerância votaram no coiso) que votam também nas eleições portuguesas (ambiguidades da dupla nacionalidade, né?) e que estão infiltrados no Chega, em grupos do Whatsapp, Telegram, páginas negacionistas, anti-vacina, terraplanismo e demais imbecilidades.
Quem acompanha a novela brasileira sabe perfeitamente o que vai acontecer a partir daqui e é essa a nossa vantagem.
Não deixaremos que o fascismo usurpe o nosso hino, as nossas palavras nem a nossa bandeira!
Domingo levarei comigo a minha bandeira e o meu baton!

#vermelhoembelem

usurpar: Usufruir de algo de forma indevida; tomar à força ou de forma fraudulenta


Condessa X