quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Bed Death

A comunicação dos corpos extinguiu-se porque já não há aquele apetite inicial? Tornaram-se mais amigas do que amantes? A vossa cama morreu, amigas? Em linguagem lésbica diz-se que estão a passar por uma Lesbian Bed Death, que em português soará mais ou menos como "morte de cama".



Vivemos tempos de comida e de dinheiro de plástico, por isso como acham que a sociedade de consumo nos educa a ver as pessoas? Exactamente. Nos tempos que correm, quando alguma coisa se avaria é, ridiculamente, mais fácil comprar-se a coisa nova do que mandar arranjar o objecto antigo. Da mesma forma, procurar uma nova pessoa que nos proporcione todas as emoções da loucura inicial parece mais simples mas já alguém aqui explicou, e muito bem, que isso é uma faca de dois (le)gumes. Aparentemente é mais fácil projectar um novo romance baseado no prazer da nova descoberta do que REdescobrir e REinventar uma RElação que parece não poder evoluir mais. A palavra relação significa precisamente a renovação de laços. E não, a experiência nem sempre é proporcional à maturidade, basta observarmos o escandaloso número de pessoas que têm tanto de experientes como de imaturas.
Passemos de nível neste próximo parágrafo, reciclado a partir de um post antigo que deixei na rede ex-aequo:
Creio que a Bed Death ocorre mais facilmente em casais cuja relação seja longa, por estes motivos que apresento e cujas propostas de REsolução descrevo de seguida:

Envelhecimento e consequente falta de identificação com o outro ou, até, com nós mesmos;

- Cultivar o nosso próprio bem-estar físico e emocional. Não deixar que o nosso físico atrapalhe a nossa performance enquanto amantes dedicadas (por exemplo, uma grande barriga dificulta manobras que se querem ágeis). Sem grandes exageros (é abominavel o tempo que as pessoas passam em ginásios em busca de um corpo perfeito), é importante termos ao nosso lado uma pessoa que se preocupa em ter uma imagem cuidada, não propriamente para mostrar aos outros mas, sobretudo, para se sentir bem consigo mesma.
Tentar conciliar horários entre ambas e fazer caminhada, andar de bicicleta (em Lisboa não é lá muito fácil, mas estes senhores e estes mostram que é possível), nadar e, claro, ter sexo a montes ajuda a queimar calorias e simultaneamente a promover a máxima "mens sana in corpore sano".
Para as pessoas que tenham dificuldades motoras, jogar xadrez, monopoly, ou brincar às barbies (não há melhor exercício criativo a duas). Não queima tantas calorias mas é divertido se passarem à prática as histórias que forem inventando com as bonecas. Imaginem-se a treinar com duas barbies aquilo que vão fazer a seguir uma com a outra. Nice, hein? ;-)

Falta de diálogo franco na relação;

- saber equilibrar as faltas de acordo com democracia e racionalidade, ora cedendo ora fazendo prevalecer a nossa vontade. Pessoas demasiado autoritárias ou demasiado permissivas tornam-se desagradáveis.

- ocultar coisas que se sente e acomular pequenas queixinhas só ajuda a aumentar a desconfiança e a criar inseguranças muitas vezes desnecessárias. Aprender a falar com franqueza e de forma educada tudo o que pensa e, do mesmo modo, estar preparada para ouvir é meio caminho andado para preservar o bom entendimento.

Medo de desiludir ou de perder a companhia;

- promover uma relação plena de novidades (o que a cada dia que passa é mais dificil). Obviamente é mais fácil surpreender uma pessoa com quem estamos há seis meses do que uma que já nos conheça por mais de 5 anos. Mas se a surpresa foi agradável há 5 anos atrás, por que não repeti-la? Flores, bonbons, cartões de crédito (esta é só a brincar, não façam isso!), livros, cd's, pequenas ofertas que sugiram consideração pela pessoa costumam ajudar, mas isto não é nada se não for acompanhado com pequenas atitudes também!!!!
Um banhinho de espuma antes do jantar, uma sobremesa especial, uma ida ao teatro para uma peça que ela realmente desejasse ver, um filme especial, um pic-nic com amigos em comum. É fulcral que não se fechem em quatro paredes, mas que convivam com amigos comuns e privados (até porque são estes que te vão emprestar os ombros se alguma coisa correr mal depois), é importante que os elementos do casal possam dar espaço um ao outro para que se encontrem com amigos particulares sem que haja desconfianças. Todas essas pequenas atitudes, mesmo que já tenham sido tomadas são sempre bem vindas, não importa se já foram repetidas porque quando é delicioso desejamos sempre repetir.

Rotina;

- Só se consegue inovar quando temos a mente aberta. Não creio que haja nenhum truque particular para se fugir à rotina, ela existe sempre, temos é de saber encará-la não como rotina no mau sentido, mas como lucro. Quanto melhor conhecermos uma pessoa melhor saberemos como surpreendê-la e agradá-la agradando-nos ao mesmo tempo. Abrindo o baú mental, libertando-se de preconceitos, lendo, visitando sítios, falando com amigas... há-de encontrar SEMPRE boas novidades, por mais anos que viva.

- Massagens ajudam muito. Não tendo uma banheira de hidromassagem, poupam um dinheirinho para um fim de semana de pequenos caprichos num hotel. Compra um bom óleo de massagem (sobretudo quando não somos especialistas um bom óleo ajuda - especial atenção para os comestiveis, ou melhor, lembíveis), uns massajadores para o efeito, mas atenção que é preciso ter cuidado com as massagens intensivas quando não se sabe muito bem o que é que se está a fazer. Simples brincadeiras como pintura corporal - também com tinta comestivel - é sempre bom, há que lembrar que depois de sujar alguém vai ter de limpar, portanto mudem logo de lençois e tenham atenção às paredes! :-) E por que não experimentar fantasias sado-maso, brincar com chicotes, algemas e dildos?

- Regra de ouro: Não se desleixar em NADA. Ser sempre bonitinha e sorridente, doce como nos primeiros tempos, ser gentil como quando andava a tentar cativar a sua atenção, tudo como no início. Não descurar a depilação ou a apresentação física só por achar que já não tem de impressioná-la. Tem. Sempre. Nada mais desagradável do que sentirmos que a pessoa já não se esforça para nos agradar como no início. Se isto acontece contigo, amiga, oferece-lhe um belo par de patins porque o par de cornos está completamente fora de moda!!!

Stress, cansaço, falta de motivação, problemas profissionais ou familiares;

- Nada de ir a correr para o professor Mustafah porque vai acomular mais dois problemas: o financeiro e o de debilitada saúde mental.

- quando a motivação ou a estima de uma pessoa está em baixo há que reunir todos os soldadinhos e combater arduamente contra esses inimigos perigosos. O diálogo, na tentativa de perceber o problema, é bom porque ajuda à reflexão conjunta e, como se sabe, o problema de um dos elementos significa, na verdade, um problema do casal. Além disso, os especialistas dizem que o sexo é o melhor anti-stress.

Desejo físico ou emocional por outra pessoa;

- as pessoas não escolhem por quem se sentem apaixonar mas escolhem a forma de lidar com isso e escolhem as atitudes que tomam perante essa situação porque são seres dotados de racionalidade. Não há formas simpáticas de se assumir isto à outra pessoa, mas há formas HONESTAS de fazê-lo. A ditadura da monogamia diz-nos que para nos autorizarmos a estar com uma pessoa temos de nos desapaixonar imediatamente da outra. A maior parte de nós sabe, ainda que não goste de admitir, que os nossos nobres corações podem, em determinados momentos, sentir-se divididos porque os sentimentos não são automáticos nem fáceis de catalogar. Erro sobre erro até descobrirmos que afinal não há uma única pessoa perfeita e que, sendo todas imperfeitas, temos a capacidade de aperfeiçoá-las com o nosso olhar que nelas projecta beleza. Se acredita que só há um único amor verdadeiro compreenda o ridículo da teoria: Se Romeu vivesse no outro canto da terra e nem soubesse da existência de uma Julieta, não teriam cada um deles se autorizado a amar mais ninguém?


- se o desejo físico ou emocional recai sobre outra pessoa é importante que haja abertura suficiente para contar isso ao cônjuge/companheira/amiga/amante/namorada, o que quiserem. Naturalmente, se o cônjuge for demasiado ciumento ou inseguro não vai tolerar bem a partilha dessa informação, daí que as pessoas prefiram não dizer nada e fazer as coisas pela calada. Nada melhor do que estar disposto a ouvir tudo, tanto as coisas boas como as más, pelo menos se algo correr mal somos os primeiros a saber! E nada melhor do que estar disposto a contar tudo, mesmo sabendo que essa informação pode ferir a pessoa é melhor dá-la, pois pior mesmo é a pessoa sentir-se enganada depois de feita a asneira!
Caso o cônjuge tenha inteligência suficiente para ouvir tal desabafo sem desatar aos gritos, ameaças ou chantagens psicológicas, há que tentar perceber qual o problema (se é que existe) que só depois de identificado poderá ser resolvido. Se o problema está em si mesmo ou no outro, se a atracção é meramente sexual, se esse factor é por si só suficiente para colocar a relação em causa, entre outros. Há que tentar agir sempre com a máxima diplomacia.

Considerar que já sabe tudo sobre sexo e não há qualquer novidade;

- se uma pessoa acha que já sabe tudo sobre sexo e que isso já não consiste numa grande novidade, então tem um grande problema: ou foi gulosa demais ou tem falta de criatividade. Para isto, creio não haver cura! Há um ditado marroquino que diz qualquer coisa como: "Se o teu mais que tudo é mel, não o lambas todo!" Isto é, guarda uma novidade para amanhã, a gula é um dos pecados capitais.

Discussões constantes ou falta de acordo em questões vitais para a relação;

- a falta de acordo entre o casal pode dar origem a essa Bed Death, como disse anteriormente, às vezes é preciso saber ceder em algumas coisas para se conseguirem outras. As discussões podem ter origem nas mais diversas áreas, daí que o diálogo diplomático seja essencial. Se considerarmos que a pessoa nos desagradou de alguma forma ou às vezes tem atitudes de que não gostamos, nada melhor do que alertá-la logo no início da relação e não deixar isso arrastar-se ao longo dos tempos. Se a pessoa deixa a roupa espalhada pela casa, gasta imenso ao telefone, não é asseada, vasculha as nossas coisas (se faz isto é porque não tem confiança no outro e isto gera instabilidade), ou nunca cozinha para nós é lógico que isso torna a relação frágil, daí a importância de respeitar a convivência e esforçar-se ao máximo para assegurar o bom entendimento. O desrespeito pelo outro é motivo suficiente para que as pessoas não procurem a outra sexualmente e isso deve ser combatido. Portanto um bom banhinho, uma casa arrumada, o respeito pelo espaço do outro, uma atençãozinha especial, são vitais para manter o sexo em ordem.

Para que tudo isto resulte há sempre dois factores exteriores a nós que são deveras importantes: dinheiro (sem isso não podes levá-la a jantar, por exemplo), e tempo, uma pessoa com dois empregos terá problemas em conseguir dedicar-se como gostaria à relação.

Aqui de presente, especialmente para as visitantes góticas, uma belíssima música com um vídeo deveras polémico do grupo Lesbian Bed Death



Desejos de uma óptima Living Bed

x-pressiongirl ;-)

P.S. - Gostaria de sugerir duas visitas:
1. Sobre a durabilidade dos relacionamentos e a sua explicação fisiológica, o blogue Azinhaga da Cidade. A este propósito um delicioso ensaio de Denis Rougemont que, noutro momento, gostaria de divulgar: "O amor e o Ocidente" sobre a forma como encaramos as relações no Ocidente, Tristão e Isolda, Romeu e Julieta, D. Pedro e Inês de Castro, todos parecem amores perfeitos porque morreram antes de se fartarem uns dos outros. Para tornar a coisa mais bonita ainda, tendem a morrer ao mesmo tempo. :-)
2. Sobre a decadência do "amor romântico", o blogue Cuscas das Gajas.

3 comentários:

lr disse...

ena, que aqui ACUMULA-SE savoir-faire ;)
agora, a sério: quando é que você, diva, escreve um livro?

antidote disse...

"a partir do momento que uma coisa se torna possivel, práticamente tambem se torna obrigatória" (Unabomber).

http://laundrylst.blogspot.com/2008/03/outsourcing.html#links

é possivel desejar dormir sempre com a mesma pessoa por muito que seja por nós amada. Nao quer dizer que seja sempre cumprido.

x-pressiongirl disse...

Diva LR aqui acomula-se "savoir imaginer" com algum savoir faire. Quanto ao escrever livros... Faz sentido matar-se tanta árvore só pelo prazer de se ter um livro? Faz sentido escrever livros em tempos de blogosfera? Faz sentido a editora ser quem mais lucra com as nossas letras? Até me recordo de um post da Diva LR em que dizia precisamente que um dia olharemos para os jornais impressos como quem hoje olha para uma ampulheta. ;-)
Antidote, muito interessante o link que depois dá acesso a outro link, andei aí deliciosamente perdida nas letras.
Abraço,

x-pressiongirl