terça-feira, 11 de novembro de 2008

Os grandes amores têm de ser sofridos? - Nova enquete

A lenda de Tristão e Isolda, a obra Romeu e Julieta, a história de Pedro e Inês. O que têm elas em comum?
Não querendo misturá-las num mesmo saco, sinto-me tentada a relacioná-las na forma como abordam o amor romântico, normalmente acompanhado de platonismo, drama e tragédia. No seu amado ensaio "O amor e o Ocidente", Denis de Rougemont parte da lenda de Tristão e Isolda, para reflectir sobre a forma como o Ocidente tende a lidar com aquilo a que chama de amor.
Olhando para os três exemplos ocorre-me que tanto Isolda como Julieta já estavam comprometidas e que Pedro era casado; todos eles parecem sentir-se mutuamente atraídos após o primeiro contacto visual (o chamado "amor à primeira vista"); todos eles mantêm a sua relação envolvida em secretismo e o amor acaba por levá-los à morte (a expressão "morrer de amores por X" vem destas histórias).
Penso que todas elas poderiam ser manifestos pelo livre arbítrio do amor, contra o destino traçado pelos pais. Somos condescendentes com a traição resultante da proximidade destes casais porque @s respectiv@s noivos são sempre retratados como incapazes de amar. As novelas fazem o mesmo. Um elemento bom casado com um elemento mau apaixona-se por outro elemento bom, transformam o mau em cornudo e surge um grande amor só porque ele é proíbido. A fórmula ainda hoje vende.
Ou seja, somos condescendentes com uma "traição" desde que ela seja justificada com um grande amor que não se pode evitar. E esse amor parecerá tão maior quantos mais forem os obstáculos que os amados terão de atravessar. Depois do sofrimento virá a recompensa.
Romeu e Julieta batem recordes de rapidez porque declaram o seu amor instantaneamente e casam-se secretamente logo no dia seguinte. Eram ambos nobres, descendentes de famílias rivais. Bonito serviço!
D. Pedro foi o único que não se suicidou (mas vejamos, destes três pares apresentados este era o único não-ficcional). D Pedro apaixona-se por D. Inês, aia de sua esposa. Não é lá muito correcto, mas desde que os amores sejam grandes amores, nós autorizamos, não é?
Não se sabe como teria sido se os intervenientes não tivessem morrido tão prematuramente. Possivelmente Julieta iria compreender que Romeu não passava de um rufia armado em engatatão, Isolda possivelmente teria compreendido que Tristão nunca iria ajudá-la na lida da casa e jamais lhe seria fiel (até se casou com outra Isolda, não é chocante?) e Inês talvez fizesse melhor par com a rainha do que com D. Pedro.
A ditadura do "grande amor" pede-nos para regar a relação com drama, mais dor do que prazer (porque o prazer é conotado com pecado). O amor é doloroso e o sexo é prazeiroso?
As "mais belas" histórias de amor estão impregnadas de infelicidades, traições, crimes e tragédias. Já era hora de limparmos isto um bocadinho, não?
Por que é que os livros não nos contam mais histórias de amor bem resolvidas? A história não vende bem, não é?
Podemos ser romântic@s e sóbri@s ao mesmo tempo? O que é que torna uma paixão num grande amor? O sofrimento é um processo que conduz ao amor? Os "grandes amores" são sofridos?


x-pressiongirl

P.S. - A enquete resultante desta reflexão é da inteira responsabilidade de Satya. :-)

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