domingo, 11 de janeiro de 2009

Mulheres Letra L para reportagem

Chegaram-me dois apelos (não estou segura de que eles sejam distintos e não provenham da mesma pessoa) em busca de mulheres femininas que se disponham a dar a cara e que consintam participar numa reportagem. Divulgo na íntegra os dois:

Apelo I

Olá, sou jornalista e estou a preparar uma reportagem com base em depoimentos sobre lésbicas femininas e requintadas ou mulheres que independentemente da sua orientação sexual já tiveram um envolvimento com alguém do mesmo sexo, preenchendo estes requisitos. Se desejarem, podem manter o anonimato. Aguardo respostas para o meu e-mail até dia 14 de Janeiro. Obg. marialopes1972@gmail.com

Apelo II

Olá a todos

Sou jornalista e estou a preparar um artigo de fundo para uma revista nacional de grande tiragem acerca da temática lésbica e bissexualidade. Procuro testemunhos de lésbicas bonitas, femininas e requintadas (tipo as da série da Letra "L")

(imagem gamada por mim, x-pressiongirl)

ou mulheres que independentemente da sua orientação sexual já tenham tido experiências com alguém do mesmo sexo, preenchendo estes requisitos.

Dada a delicadeza do assunto, se as interessadas assim o entenderem posso manter o anonimato, mas lançava o desafio para que fossem fotografadas sem se ver a cara numa produção glamourosa em estúdio com um fotógrafo especializado em moda.

O trabalho terá de ficar concluído até ao próximo dia 21 de Janeiro, o que quer dizer que na próxima semana terei de recolher os depoimentos. Aguardo respostas com a máxima brevidade possível para o meu e-mail raquellito@sabado.cofina.pt

x-pressiongirl


P.S. - Limpar a imagem que se tem das lésbicas dá trabalho, mais ainda se tivermos em conta que a "imagem" não é só a que se vê mas, sobretudo aquela que não se consegue ver a olho nú. Se me permitem o acrescento, se tiverem um perfil à la Shane acho salutar que se abstenham de participar.

14 comentários:

Anónimo disse...

Cara x-pressiogirl,
Não percebo porque é que quem tenha um "perfil à la Shane" se deva abster de participar.
É por a personagem da série ter muitas parceiras sexuais? Isso, na sua opinião "suja" a imagem das lésbicas? Ou de alguém?
Por favor esclareça.
Obrigada.

Má ideia! disse...

olá!

já reparaste que o email da segunda é do grupo cofina? Quer dizer que ou é para a VOGUE (as if, mas ERA ALTAMENTE), ou para a G(entleman's) Q(uarterly), concorrente da FHM, entidade pagadora da Arcoírispremiada Solange F no ultimo mês.

Porreiro! Como no pornotube, lesbicas é assunto de homens. Já escrevi à senhora a dizer shame on you....(ou será shane on you?)

Ei citadina, nou sou advogada da rapariga xpressona, mas APOSTO o meu pito em como não é essa a questão (a proliferação sexual das mucosas)!

ser asseadinho é sujo. É preciso é lavar-se com lancóme (oriflame é coisa de bicha)

Má ideia! disse...

já a maria lopes tá assim para o anuncio de "senhora séria".

Há uma terra de ninguém do requinte.
As femmes são requintadas, o james bond é requintado, gay que é gay é requintado, o resto são putas, bichas , camionas e galinhas (vacas)

puá....pat@s brav@s

Rainha Malvada disse...

O apelo da Raquel Lito é para a Sábado, ela já entrevistou a Helena Martins, e está a escrever um livro sobre homossexualidade. A Maria Lopes, já me parece uma coisa assim mais para o obscuro...o nome Maria Lopes parece agente da Herbalife à caça de fufas incautas no engodo da fama atrás do barracão. É preciso visibilidade, quem poder dê a cara, deixem-se de rodriguinhos.

Má ideia! disse...

rodriguinhas, é mais a cena do momento.
Numa coisa concordo: este país está tão cheio de católicos não praticantes como de heteros não praticantes. Há que se dar na cara.

Mas numa produção de "moda"????

Anónimo disse...

arriscava que é o mesmo pedido. mas a sábado (que também leio) tem preconceitos inenarráveis, o que só por si daria um post ou muitas dicas para um livro. a credibilidade dos jornalistas que escrevem na sábado não é posta em causa. a coisa fia mais fino é em termos editoriais.
também me parece que esse tipo de reportagens ajudam mais os grupos editoriais do que a nós. pelam-se por temas picantes e então quando a publicidade está em queda...
não seria mais interessante reportagens nos timings que nos interessam? na pride, no debate do casamento homossexual, etc?

[o plural magestático só vale para mim, ok? e desculpem, divas, mas desta vez não assino,ok :-)]

Má ideia! disse...

ora, por acaso quando fiz a pesquisa deu-me só a vogue e a GQ. Fiz uma pesquisa burra.

Porque não me chego à frente, já que discordo d@ anónim@ (não, o natal é quando um homem quiser, não é nos dias internacionais de....!)?

Porque não sou, nem quero ser vestida de femme para que uma migalha da minha subjectividade possa ser escutada.

El Felino disse...

"Lésbicas femininas"?... Há outras?... Ah, já percebi. Eu, por exemplo, sou uma lésbica masculina. Dammit, não me enquadro nos anúncios para as reportagens...!

Anónimo disse...

Pois, Rosa, eu sei que a questão é outra. Mas como me recuso sequer a admiti-la e, além disso, acho que a Shane do L-Word nem se enquadra no estereótipo desse preconceito...
Afinal a mulher usa baton, não tem o cabelo curto, usa decotes, calças justas, anda sempre maquilhada, o facto de não usar soutien quase nem se se nota e até se parecia ligeiramente com uma Barbie morena quando usou o vestidinho da mãe da Carmen!
Estas subjectividades na apreciação, ser ou não ser, enquadra-se ou não se enquada na imagem "suja" e masculina das lésbicas, que sendo assim não são "bem" mulheres nem muito "normais", liberdade de ser, etc., tudo isso dificulta muito, complica muito as cabecinhas, é como não acreditar em nenhum deus, uma pessoa não pode ser preguiçosa e tem de pensar a sério na vida sem aceitar os dogmas que nos querem impor e isso dá trabalho...
O custume, portanto. Mais fácil é fazer uma reportagem ou escrever um livro baseado em experiências reais de pessoas falsas. E assim sai tudo muito "limpinho".

x-pressiongirl disse...

Boa tarde Citadina, de facto a piadinha do perfil à la Shane não surge de modo algum associada ao número de raparigas com quem ela esteve mas sim à desonestidade com que a personagem trata cada uma delas. Pelo que acompanho da série, ela é a que mais engana quem com ela se envolve e isso não devia envergonhar só as lésbicas mas todas as pessoas que agem desse modo.
Citadina, permita-me acrescentar que a imagem "limpinha" ou "sujinha" das mulheres em geral e das lésbicas em particular não é só feita pelos órgãos de comunicação social mas por nós todos os dias. Não percebo o que quer dizer com "experiências reais de pessoas falsas". Há mulheres com um aspecto e atitude conotadas com o comportamento masculino e há outras com aspecto e atitude conotadas com o feminino.
Acho bem que a jornalista dê visibilidade a mulheres com aspecto feminino também porque elas existem e eu acho que não são uma minoria.
Da minha parte confesso-me cansada de ver entrevistas a lésbicas com um ar e aspecto masculinos.

rosa que fuma, gosto de James Bond e de femmes. Isso torna-me numa má pessoa?
Rosa que fuma, e se fosse vestida de gentleman, de bicha ou de urso polar crê que se escutaria mais do que algumas migalhinhas de subjectividade?
Acho fixe que se dê a cara quando nos apetecer, seja numa tasca seja numa publicação de "moda".

Rainha Malvada, também acho que quem pode dar a cara deve fazê-lo sem hesitações. Eu até não me importaria de dar a cara por tão nobre causa, mas tenho andado a dormir muito mal e penso que a maquilhagem não conseguiria disfarçar estas recentes olheiras a precisar das sagradas rodelas de pepino e de noites mais calmas. Além disso um pouco de publicidade não faz mal e eu até estou a precisar de novas amantes.
Disponibilizo-me, no entanto, para dar o corpinho para as fotos que esse continua de boa forma. :-)
Por acaso li a reportagem sobre Helena Martins mas não notei que se tratava da mesma jornalista. Obrigada pela partilha.

Anónimo, penso que sei quem é a Diva anónima ;-) não é só a Sábado que tem preconceitos. Infelizmente conheço maus exemplos de qualquer uma das publicações concorrentes. Obviamente os artigos não servem para fazer caridade, ajudar os LGBT ou quem quer que seja mas sim para vender. Se eu tivesse uma revista também gostaria de vendê-la. Não me importo que as vendam desde que não digam mentiras.

El Felino faz uma observação deveras interessante: "Lésbicas femininas"?... Há outras?..."
Pois lógico que se são mulheres têm os genes femininos lá. Vale a piada mas sabe-se que aplicamos o termo "feminina" para designar alguém com atitude e aparência associada ao estereotipo de feminilidade. É uma confusão recorrente, tal como a que surge com o termo "feminista".
Resumindo, se a jornalista quer fazer um artigo só com "femmes", espero que tenha a sorte de encontrar verdadeiras femmes dispostas a serem fotografadas e vendidas como femmes e não improvisos de última hora, sobrelotados de maquilhagem, porque não é isso nem uma roupa que faz uma femme, é a atitude!
Confesso-me cansada de ver entrevistas a lésbicas com um ar e aspecto masculinos e acho bem que se dê visibilidade às outras mulheres também.
Boa sorte para a reportagem!
Strike a pose!

Anónimo disse...

x-pressiongirl,
Permita-me que discorde e que considere uma valentíssima hipocrisia essa coisa de "quem mais engana".
Porque ou se engana ou não se engana. Se vamos ver quem engana, a Bette enganou (mais que uma vez). A Tina enganou. A Jenny enganou. Se quer que lhe diga, não me consigo lembrar de nenhuma personagem que não tenha enganado, de uma forma ou de outra, que não tenha fraquezas morais, que não seja, no fundo, humana. Ali não há seres perfeitos, há seres humanos, tal como na vida.
Podemos armar-nos em superiores moralistas e puras de espírito o quanto quisermos mas nem isso nos permite escapar à nossa condição humana.
E deixe-me que lhe diga: a alegada desonestidade com que a Shane trata algumas das suas parceiras sexuais não é em nada superior à desonestidade de outras personagens que já citei. Aliás, a Shane é até bastante honesta na forma como não esconde a sua natureza avessa ao compromisso.
E assim, continuo a desconfiar que o que está por trás da questão SÃO MESMO os julgamentos moralistas associadas à "promiscuidade sexual".
Finalmente: o que eu quero dizer com "experiências reais de pessoas falsas" é o seguinte, se não ficou bem claro: lésbicas com aspecto "masculino" são tão lésbicas como as outras e não sujam, de forma nenhuma, a imagem de quem quer que seja. O "sujo" está todo na cabeça das pessoas. E, posto isto, se se quer fazer um estudo sério, devem ser consideradas TODAS as imagens de lésbicas disponíveis e não só as "limpinhas", ou seja, as "femininas". Isto para não fugir à realidade, claro.
Dizer que, num estudo sobre lésbicas alguém lésbico "se deve abster" de participar só para não "sujar" o quadro, gera obviamente uma imagem falsa.

Má ideia! disse...

Pleno fervilhanço de comentação! fixe.

Curta e grossamente, continuo a achar palerma a produção de moda. Acho que anula a parte discursiva. Torna a parte discursiva uma ilustração das imagens e não o contrário; se fosse na Vogue, era grande atitude. Compreendes a diferença?

Ei expressona, quem falou em pessoas más?
É ou não é assunto a visibilidade/invisibilidade?
Que todos são heteros até prova em contrário (já sabes como me mexo em relação à visão disso nas leis, que gay é aquele que não faz parentes, não tem companheiros, não perfilha, não faz filhos, é eterno filho; tal como mulher é aquela que não aparece na linguagem senão como excepção/diferença do normal)?
Se calhar é irrelevante mais um artigo; pessoalmente, estou a debater a idoneidade um "pedido de co-laboração", porque gostaria de colaborar com ALGO (bem sabes que a malta tenta).

Há 2 assuntos que aqui gosto de resumir:

o gender bending (a personagem shane, que é gay e les em simultâneo, Bi for money and Les at heart)
o gender bending enquanto aproveitamento comercial: camiona versus metrosexual lancome (o que se censura não é o gender bending, mas o erro ao nível da trend e dos consumos: lê-se o look e não o trabalhar pessoal dos estereótipos. Uma coisa que achei curiosa na personagem shane era a história tipo american dream, muito ligada ao ganha-pão: prostitutO, cabeleireirO, modelO. A ascenção social duma gender bender)

Má ideia! disse...

ascensão!!! god damn it!

Anyhow. Não é o baton. Não é o role play (danço para vcs em cima do varão). É o role model (danço para vcs em cima do varão). É o protocolo de estado que diz que tenho que ir de saia larga e não gravida (a ministra)Chacón (uma vez prenha, a outra de calças, a fazer capas de jornal) para ser "aceitável", ou seja, que não se pode "debater" as minhas escolhas, validá-las ou reusa-las (e é tão imbecil que se perca tanto tempo a debater as "minhas" escolhas de vestuário. Na realidade, está-se a debater a extensão da minha aceitação do papel-de-genero, a minha aceitação de um lugar hierarquico, que NÃO DEVE ser contrariado pela supressão de sinais exteriores, ou pela ostentação de sinais "contrários").

Isto não é tão inflamado como parece. Acho uma porra ir buscar o pior aos homens (o autismo aliado a demonstrações de força_estratégia de babuino). Mas acho fixe que se sinta a liberdade de o fazer, não ficar aferrada a uma ideia de essencia feminina sem querer entender que ambos os papeis feitos de papel e servem para escrever (ou neste caso da revista, tirar fotocopias)

x-pressiongirl disse...

x-pressiongirl,Citadina, tenho a agradecer a belíssima ideia que me deu para esta nova enquete que há dias em que me falha a imaginação. De facto a história de "quem mais engana" é interminável. Não há como medir quem engana mais, há as que enganam e há as que não.
"Se vamos ver quem engana, a Bette enganou (mais que uma vez). A Tina enganou. A Jenny enganou. Se quer que lhe diga, não me consigo lembrar de nenhuma personagem que não tenha enganado, de uma forma ou de outra, que não tenha fraquezas morais, que não seja, no fundo, humana. Ali não há seres perfeitos, há seres humanos, tal como na vida." Concordo em pleno que a série retrata muito bem essas fragilidades. Eu não me armo em superior, analiso-me e comparo-me àquelas que conheço e gosto da minha honestidade.
"Aliás, a Shane é até bastante honesta na forma como não esconde a sua natureza avessa ao compromisso." O que não impediu que iludisse algumas pessoas. Não tenho nada contra as pessoas que têm uma grande lista de amantes ocasionais, apenas contra a desonestidade com que as tratam. A série L Word mostra mesmo que todas elas têm o seu Q de vaquinhas. Um bocado como no mundo real.
"Finalmente: o que eu quero dizer com "experiências reais de pessoas falsas" é o seguinte, se não ficou bem claro: lésbicas com aspecto "masculino" são tão lésbicas como as outras e não sujam, de forma nenhuma, a imagem de quem quer que seja. O "sujo" está todo na cabeça das pessoas. E, posto isto, se se quer fazer um estudo sério, devem ser consideradas TODAS as imagens de lésbicas disponíveis e não só as "limpinhas", ou seja, as "femininas". Isto para não fugir à realidade, claro."
A revista não pretende fazer nenhum estudo, apenas dar visibilidade a lésbicas femininas (e vender, obviamente), já que , convenhamos, são as que menos aparecem neste tipo de entrevistas e por isso acho óptimo que façam esta reportagem precisamente para dar visibilidade a estas que tão pouco aparecem.
"Dizer que, num estudo sobre lésbicas alguém lésbico "se deve abster" de participar só para não "sujar" o quadro, gera obviamente uma imagem falsa."
Citadina, compreendo que não saiba o tom com que pronunciei essa frase ao escrevê-la, é um tom meio malvadinho meio gozão que é impossível transmitir por letras e por isso mesmo não era para levar
à letra.
Rosa que fuma, compreendo perfeitamente a sua posição quando afirma que é a parte discursiva que vai "ilustra" as imagens e não o oposto. Talvez lhe traga más notícias mas já é assim em muito cinema, em muita música, and so on... É a imagem que vende.
E sim, fala-se de (in)visibilidade e de papéis e concordo plenamente que cada pessoa deve poder escolher, tal como a rosa disse: "Acho uma porra ir buscar o pior aos homens (o autismo aliado a demonstrações de força_estratégia de babuino). Mas acho fixe que se sinta a liberdade de o fazer, não ficar aferrada a uma ideia de essencia feminina". Da mesma forma eu tenho a liberdade de escolher não gostar de imitações de babuínos e a revista tem a liberdade de escolher raparigas que considere femininas para a entrevista. Liberdade é isto. Eu quero fazer uma festa na minha casa e só vou convidar pessoas com mais de 1,70 (eu própria ficaria de fora da minha festa, se levasse isto a sério). Estou a discriminar? Obviamente, mas é a minha casa.
A revista está a discriminar? Sim, mas é a revista deles.
Aproveito para informar que as entrevitas em causa serão publicadas neste próximo número da revista Sábado, que sairá já esta 5ªf dia 29. Parece que é o tema de capa.