quarta-feira, 30 de abril de 2008

Monokini / Topless - o exemplo sueco


As amigas suecas andam revoltadas com o facto de terem de cobrir as maminhas. A notícia, que já tem cerca de 5 meses de vida, é dada em forma de caricatura, por isso vou tentar descobrir mais coisas sobre as amigas e depois venho contar.

Elas reivindicam o direito a ter a descoberto os seios e a usar só a parte inferior do bikini, tal como os homens, nas piscinas municipais. Alegam, e bem, que a obrigatoriedade de usar a parte superior do bikini é uma forma de discriminação do corpo feminino.


Se se conquistar o direito a usar facultativamente o bikini em locais públicos, temos mais uma planta no jardim feminista. Mas atenção que esta pretensa forma de igualdade é uma faca de dois (le)gumes. Como alguém disse, isto pode não significar propriamente que a sociedade esteja a ficar mais igualitária mas sim, mais perversa. Quem dita as regras autoriza mais facilmente a pornografia do que a igualdade.


Há uns tempos, uma amiga fez-me ver que uma mulher entra mais facilmente num museu se estiver nua dentro de um quadro do que se quiser entrar enquanto artista que pretende expor as suas próprias obras. Acham que é só uma coincidência, não acham? Pois, se for, não deixa de ser uma coincidência perversa.

Condessa X

Recorde no gaydargirls - L word e G word

As amigas portuguesas bateram um recorde no gaydargirls. Parece que ultrapassámos as 54 online. Andei a incentivar algumas amigas a fazerem o login para registar o momento, mas esqueci-me de fazer print screen :-( por isso levam com a imagem do recorde anterior que eu tive a felicidade de registar. Se, porventura, presenciarem um novo recorde não deixem de enviar a imagem.

Desobri que quando se ultrapassa as 40 raparigas online temos de virar a página. Os rapazes gays descobriram isto há muito, mas muito mais tempo. É que, normalmente, costumam estar online cerca de 1000 rapazes portugueses, no gaydar deles.

A explicação é simples. Os gays são homens (note-se que a palavra gay apenas serve para designar raparigas lésbicas quando aplicada num sentido mais restrito e em que a referência seja clara); a luta LGBT é normalmente encabeçada por homens; eles, enquanto homens, não sentem complexos em autorizar-se a procurar sexo (ok, nem todos os gays são descomplexados, mas proporcionalmente, são mais bem resolvidos do que nós raparigas lésbicas/bi) pois isso é visto como algo natural num homem. Mais ainda, a generalidade das raparigas tem vergonha de admitir que tem um perfil no gaydargirls (a maioria ou não tem foto, ou tem fotos de estrelas de música e cinema, ou tem fotos suas desfocadas e distorcidas) e muito menos admite que teve um blind date ou, pior ainda, que conheceu a namorada através do gaydar. Complexos atrás de complexos.

Só há relativamente pouco tempo é que se começou a ver anúncios de prostitutos para mulheres, e parece que é um negócio em franca expansão. A mulher (hetero ou homossexual) também procura sexo, mas fá-lo às escondidas porque socialmente não é bem aceite que uma mulher exprima descomplexadamente tais desejos. A sua única saída é procurar às escondidas aquilo que, muitas vezes por imposição social, é (auto)obrigada a criticar publicamente.

Para aqueles que dizem "Ah, o homem é mais sexual do que a mulher", respondam então à simples pergunta:

"Que espaços, físicos ou virtuais, tem a mulher (hetero ou homossexual) para exprimir descomplexadamente a sua sexualidade?"


1.Antes de mais importa referir que a mulher lésbica tem uma grande desvantagem relativamente aos homens gays: ela é cobiçada e perseguida por homens heterossexuais que têm a fantasia de ter sexo com duas mulheres ao mesmo tempo (ou seja, quase todos os homens heterossexuais) e que descaradamente povoam bares e chats a elas dirigidos.
Recordo-me da altura em que se vulgarizou o uso da internet e do fastio que me dava saber que ao entrar nos canais de temática lésbica do IRC teria de estar bem atenta ao tipo de discurso para conseguir detectar os intrusos.

2. Nos bares e discotecas para lésbicas (por acaso só conheço a Maria Lisboa, parece que o Memorial fechou, finalmente) a entrada de homens é permitida (e nem acho mal que o seja, mas incomoda-me profundamente quando os homens são heterossexuais que só estão ali a ocupar espaço com aquela baba de quem nunca viu duas raparigas juntas ao vivo).


3. Publicações lésbicas não temos. O Clube Safo (que há meses se encontra em gestão, por não ter quem queira pôr mãos à obra e ressuscitar a associação) costumava editar uma "revista" que era a "Zona Livre". Se quisermos uma revista lésbica temos de comprar revistas estrangeiras. Neste momento só me consigo recordar da g3 e da Diva (costumava haver na livraria LGBT Esquina Cor de Rosa, que fechou há mais de um ano - obrigada p, por me ter informado). Normalmente estas revistas podem ser encontradas em papelarias frequentadas por um público estrangeiro. Acham que as amigas deixam de comprar as revistas só porque vêm passar férias a Portugal? Quando fizer uma pesquisa decente publico mais links de revistas.


Houve uma revista, creio que há uns 5 anos atrás, que tentou implantar-se como revista "alternativa". Não era assumidamente nem gay nem lésbica. Deu para o torto, sairam 2 ou 3 números e a revista "Diferente" desapareceu. Temos ainda, muito esporadicamente, a Korpus que apesar de debater temas de interesse geral para o público LGBT, não tem sequer uma secção lésbica.


4. Mesmo as festas dirigidas a lésbicas como a Lesboa, são um produto recente que tem pouco mais de um ano. A propósito, informo que teremos a próxima dia 24 de Maio no espaço Domus por isso é bom guardarem um dinheirinho (uns meses antes de surgir a Lesboa ocorreram duas festas com o sugestivo título de "Festa da Mulher Aranha", lembram-se? Já fez dois anos e só custava €3).

5. Os espaços de debate dirigidos a mulheres são ainda muito poucos e consigo recordar-me do escândalo que foi quando começámos a organizar o "chá das 5" (em breve o Chá das 5 voltará à carga, trarei mais notícias nos próximos dias) que era um evento dirigido só a raparigas. "Isso é discriminação". Por acaso até é, mas faz sentido que por vezes as raparigas possam ter um espaço só delas, de vez em quando. Por exemplo, eu consigo compreender quando determinado bar se dirige só mesmo a rapazes, comprendo que haja saunas só para eles, não faria sentido que fosse doutra forma. Temos também os bares e discotecas mistas. Há espaços comuns e há espaços privados. Tornamo-nos mais desinibidas quando não temos de levar com as observações, as piadinhas, ou os olhares curiosos dos rapazes.

6. Os rapazes gays têm espaços só deles que não são invadidos por raparigas (quantas raparigas têm a fantasia de ir para a cama com dois gays?). O gaydar deles existe há muito mais tempo, eles têm saunas e, recentemente... tcharan! um clube de cruising ;-)

http://www.labyrinto.com/

Finalmente Portugal vem juntar-se a outras cidades e capitais europeias para onde os gays portugueses se deslocavam com alguma frequência e onde podiam disfrutar de espaços como este para exprimir as suas fantasias e fetiches.

Logicamente é um espaço dirigido somente a homens. Porquê? Porque as mulheres não gostam de sexo?

7. Não. Porque as mulheres ainda não se autorizaram a elas mesmas a desfrutar do sexo com a mesma naturalidade com que os homens o fazem.

Condessa X

Tanque das Conversas Feministas

A UMAR, em parceria com o Chapitô, organizou na 4ªf, dia 23 de Abril o 2º debate, inserido nas comemorações dos 80 anos do último congresso feminista realizado em Portugal e que culminará num mega-congresso entre os dias 26 e 28 de Junho (a realizar-se na Fundação Calouste Gulbenkian e na Faculdade de Belas-Artes).
80 anos depois do último congresso feminista em Portugal??? Ao que parece este último congresso feminista foi, na verdade, o II Congresso. É que o regime salazarento dificultou as coisas às feministas portuguesas que então tentavam acompanhar os passos das sufragistas Inglesas, argumentando que estes congressos para nada mais serviam do que para "bolchevizar as mulheres".
Fui com duas amigas (uma mais lésbica que feminista e a outra mais feminista do que lésbica) ao 1º debate da UMAR no mês passado. Lá estavam as oradoras no tanque do Chapitô, já muito loucas com as bebidas oferecidas pela anfitriã. Como chegámos tarde (o debate começou com cerca de 2 horas de atraso, e enquanto esperavamos decidimos ir fumar um caximbinho ao Caximbar) não conseguimos acompanhar o fio condutor das private jokes. Gostei de ouvir a Eduarda Dionísio, apesar de ter extraído pouco do seu discurso quase embriagado, talvez pela hora avançada. Falou-se muito de história, contaram-se algumas estórias, mas não houve debate propriamente dito. A conversa entre amigas ficou-se muito pela brincadeira (uma das artistas convidadas pareceu muito rude porque não parava de interromper as outras com piadas completamente descabidas, devia ser do vinho). Falaram de feminismo sempre na perspectiva da mulher heterossexual de meia-idade. À saída comentei com uma das minhas amigas que esperava um pouco mais daquilo e ela respondeu:
"É o que temos!" Ou seja, ou isto ou nada. Pois bem, o feminismo tem de ser reinventado!
Para muita pena minha deixei escapar a data do 2º debate, e este eu acho que prometia...
Sugiro uma visita ao site do Congresso Feminista 2008. Elas estão a promover um concurso de vídeos sob o tema "O que é o feminismo", o prazo de entrega é 31 de Maio e o vencedor irá participar num festival internacional de cinema.
Estão a precisar de voluntárias para ajudar na organização do Congresso feminista a realizar-se no final de Junho. Vamos lá, meninas! Girl power!

http://congressofeminista2008.org/

"Dizem que não são feministas? Então por que não vão para casa pedir as ordens do homem e recolher à sua insignificância? Sempre detestei mulheres que não gostam de outras mulheres, que não se sentem solidárias com as outras."

Elina Guimarães (1904-1987) activista feminista portuguesa

Condessa X

terça-feira, 29 de abril de 2008

Sem Bikini

pensei inicialmente em criar um blog porque achei que seria bom praticar a escrita agora que o novo acordo ortográfico está em aceso debate. Depois mudei de ideias. Os linguístas e os políticos que se entendam primeiro.
O blog era para se chamar "brassières flottants" (soutiens flutuantes), numa alusão à história das feministas que teriam queimado os seus soutiens nos anos 60 (eu não estava lá para confirmar se realmente os terão queimado) e também porque as lésbicas gostam de despir soutiens. Este blog pretende ser um antro de ensaios, divagações e reflexões lesbo-feministas.
Desisti do nome inicial porque além de ser um nome estrangeiro é, também, um pouco extenso.
Optei por bikini, um nome universal e ligado ao universo feminino, mas parece que houve uma saloia qualquer que me roubou a ideia. Não faz mal, acabei por ter uma ideia melhor e inserir a palavra "sem" (olhem que palavra tão portuguesa!) antes de bikini. Melhor ainda que top less.

Condessa X